Eles tinham apenas 17 anos e uma ideia revolucionária na cabeça. Os amigos Flávio Dias e Alberto Pecegueiro sentiam falta de uma publicação nacional especializada em surfe. Mais do que isso, um veículo que pudesse se comunicar com os jovens, ávidos em conhecer novos lugares, viver aventuras e compartilhar experiências.
Os dois estudavam juntos no Colégio Andrews, quando Flávio voltou da Califórnia com alguns periódicos de surfe. Inspirados nas publicações internacionais, o projeto contou com a experiência e ajuda de Juvêncio Dias, pai de Flávio. Juvêncio era dono de uma gráfica, e acabou se tornando o assessor técnico para tornar o sonho viável. Ele foi mais além, estimulando os garotos a lançarem uma revista ao invés de um jornal, a ideia inicial.
O editorial da revista ficou a cargo de Alberto, que futuramente assumiria o comando da Globosat, então maior operadora de TV a cabo do país, enquanto Flávio cuidava da parte comercial e distribuição.
Em abril de 1975 a edição número 1 da Brasil Surf ganhou as bancas com o surfista Cláudio Bento Ribeiro na capa, em foto aquática de Freddy Koester, no Arpoador. A legenda da capa dizia apenas “Tomada no Arpoador”. A revista foi lançada ao preço de Cr$ 10, o equivalente a US$ 1,30, e publicou, entre outras matérias, a lista de convidados para o primeiro Campeonato de Saquarema. Quase toda em preto e branco, a edição saiu com a tiragem de 10 000 exemplares e se esgotou rapidamente nas bancas. O sucesso inicial se traduziu durante a trajetória da revista.
A partir da segunda edição juntou-se a equipe, Fernando “Fedoca” Lima, famoso surfista e fotógrafo carioca que tinha um amplo relacionamento com os surfistas, que abrilhantaram a revista com entrevistas e artigos diversos. Outros fotógrafos deixaram suas marcas na revista como Múcio Scorzelli, Henrique Gualberto, Rogério Ehrlich e Klaus Mitteldorf.
Antes de existir a revista Brasil Surf eram as importadas Surfer e Surfing que chegavam às mãos dos poucos surfistas que tinham acesso às bancas e lojas em aeroportos internacionais do Rio de Janeiro de São Paulo.
Em meados da década de 1970, em plena Ditadura civil-militar no Brasil, uma revista de surfe feita por jovens e para jovens era fora dos padrões. A revista Brasil Surf rompeu com velhos paradigmas, contribuindo para o crescimento do mercado do surfe e o entendimento da cultura de praia de forma mais ampla para a sociedade. A Brasil Surf mudou a imagem dos surfistas, apoiou eventos, campeonatos e empreendimentos como fábricas de pranchas, roupas e acessórios, tornando-se uma propulsora para o profissionalismo do surfe no Brasil, a Certidão de Nascimento do surfista brasileiro, a ponto de fornecer cartas de referência para que atletas buscassem patrocínios ou mesmo isenção de taxas para que pudessem viajar profissionalmente.
Até sua última edição, em janeiro de 1979, foram 19 no total. A revista saiu de circulação, mas manteve-se viva na cabeça dos surfistas, abrindo caminho para novas publicações nacionais de sucesso. Para matar a saudade, um novo projeto para esse ano promete um livro comemorativo da revista Brasil Surf.