Na primeira vez que Homero levou Roberto Damiani para a Praia Branca, no Guarujá, o surfista e shaper uruguaio Roberto Damiani ficou alucinado com a paisagem. Tanto assim que ele converteu a visão em um símbolo das suas pranchas.
O visual impactante da prainha tem um significado ainda mais especial para um surfista que surfou primeiro na Califórnia para depois descer as ondas da costa uruguaia, seu país de origem. Antes disso, Roberto, nascido em 1948, viveu em Las Toscas, um balneário perto de Montevidéu, se aventurava sozinho pegando ondas de jacaré, aos sete anos de idade.
Sua paixão pelo surfe e viagens começou entre o fim dos anos 1950 e início dos 60, influenciado pelas séries gringas Hawaiian Eye, Adventures in Paradise e 77 Sunset Strip. As séries televisivas contavam histórias da juventude da época cruzando mares e vivendo aventuras e romances em lugares exóticos.
No início dos anos 1960, sua família mudou-se para Hollywood, na Califórnia. Foi perto dali, em Santa Monica, que Roberto viu o surfe ao vivo pela primeira vez. Ele registrou tudo na filmadora do pai, enquanto conhecia o movimento da nova cultura de praia e experimentava o surfe em Hermosa Beach, na costa sul do Pacífico.
De volta ao Uruguai em 1966, Roberto formou com um grupo de amigos, entre eles Alex Castillo, Corcho Garabelli, Tito Laguarda e Gustavo Bravetti, o clube Uwaris (Uruguayan Wave Riders), na praia de Las Toscas que tinha acabado de ganhar um píer. A iniciativa imitava clubes como o WindanSea Surf Club da Califórnia. Sem nenhuma prancha de surfe entre eles, o jeito foi fazer pranchas skimboard e bellyboarding com tábuas de madeira.
Em 1970, Roberto produziu sua primeira prancha de fibra de vidro no próprio quarto. Realizado com a sua façanha, o uruguaio decidiu dedicar sua vida para viver da produção de pranchas. Ele largou seu trabalho em um estúdio de animação de Buenos Aires e complementou sua renda pintando cartazes para viver, enquanto ainda morava na casa dos pais. Nascia a Roberto Tablas de Surf.
Nesse mesmo ano, ele e Alex Castillo foram de carona até o Rio de Janeiro para conhecer as famosas ondas do Arpoador. De lá seguiram para Santos e surfaram as ondas do Canal 3 com uma prancha emprestada. Em 1972, Roberto e Carlos Pino Elzaurdia foram até a praia de Imbituba, em busca da “Havaí brasileira” seguindo um boato que circulava na época. No ano seguinte, Roberto assistiu ao Festival Brasileiro de Surf de Ubatuba, quando conheceu a turma de paulistas, santistas e cariocas. Munido de prancha e da sua filmadora 8mm, Roberto era o único “News Media” estrangeiro cobrindo o evento.
O evento explodiu na sua cabeça. Pela primeira vez ele acompanhou um surfe de qualidade internacional, ao vivo, com o campeão Rico de Souza, Bocão, Pepê, Roberto Teixeira, Saulo, Cokinho e muitos outros grandes nomes. A galera do Itararé ficou sob o paraquedas do surfista Longarina feito de barraca, Cocó Faggiano estava ao lado em uma tenda “de luxo” com duas portas, e Roberto, no meio deles, tinha a sua tendinha individual feita à mão.
Em julho desse mesmo ano, Julinho Mazzei apresentou Homero para o Roberto. O mestre viu a prancha que ele tinha feito pra essa viagem e ofereceu trabalho para o aprendiz uruguaio, que aproveitou a experiência e fez carreira. Outros uruguaios que também formaram com Homero foram: Carlos Pino Euzardia, Canário Vázquez, Flaco Salvo, Rody Troccoli, Fanfa Martinez, Peludo Tony, Calo Martínez e Willy Barreiro.
No Brasil desenvolveu pranchas e trabalhos artísticos para Homero, Twin, Akira, Cocó Faggiano, Johnny Rice, Lightining Bolt e K&K do Rio. Fora do Brasil shapeou no Peru (com Gordo Barreda), em Mar del Plata, na Argentina, Itália, Espanha e Havaí (com Bill Hamilton).
Roberto voltou para o Uruguai, onde criou a família produzindo pranchas, a RShapes. Vinte e cinco anos depois reencontrou Homero no Legends de Maresias 2003 e agradeceu ao amigo pelos ensinamentos e incentivos que moldaram sua trajetória de vida.