O Jornal A folha de São Paulo publicou recentemente uma matéria em que Simone Medina, mãe do primeiro brasileiro campeão mundial de surf, Gabriel Medina, queixa-se da forma como foi tratada pelos havaianos durante a final do Tour 2017, na etapa do Billabong Pipe Masters, momento em que Medina tinha grandes chances de conquistar o segundo título contra o local John John Florence, que acabou vencendo por antecipação. O InnerSport reproduz aqui a reportagem da jornalista Kátia Lessa, colaboradora da Folha no Havaí.
No calor da derrota do filho durante as quartas de final no Pipemasters, Simone Medina, mãe de Gabriel Medina declarou que o clima estava pesado no Havaí esse ano. “Até na rua fomos afrontados. Quase não saía de casa e não acho isso muito legal”, disse.
Segundo ela, as crianças eram instruídas a ficar atrás dos familiares xingando e provocando: “Além de ter sido um título duvidoso ficou feio o jeito como eles nos receberam. No Brasil sempre estendemos o tapete vermelho para quem vem de fora. Não temos que provocar ninguém, mas não podemos tratar os gringos melhor do que tratamos nossos meninos enquanto eles não fazem isso com a gente”, desabafou.
Bandeiras e pôsteres do patrocinador de John John estavam por toda parte no North Shore. Lojas, casas, food trucks e até a barraca da equipe oficial de patrulha de segurança aquática estavam enfeitadas. Ao contrário do ano em que ganhou o título não havia material promocional oficial para a torcida de Gabriel nas areias.
“Tivemos que torcer na raça. Trouxemos cangas com a bandeira do Brasil e compramos camisetas porque a torcida do John John estava muito pesada”, diz Raíssa Junger, 27, que mora em Honolulu há 1 ano e meio e conferiu o campeonato pela primeira vez. Durante as quartas de final, um homem empunhava uma grande bandeira da torcida havaiana e colocava o filho nos ombros para gritar enquanto corria em direção a um brasileiro que torcia solitário apenas gritando em direção as ondas.
Metros adiante, crianças alunas da Sunset Beach Elementary School, na qual John John estudou, tiveram folga e gritavam empunhando bandeiras e vestindo camisetas que receberam na escola para torcer pelo local. Durante as baterias com Medina, a torcida ficava em pé ao redor de Charles Medina, padrasto e treinador de Gabriel. “Acho que eles ficam bravos com a forma com que nós brasileiros torcemos, porque somos mais animados”, diz a carioca Mariana Junger, 20.
“Compramos camisetas do Medina na loja oficial, mas eles estavam vendendo um modelo que custava 50 dólares, enquanto o modelo do John John estava 25 dólares”, diz Maíra Cavalheira, 29, que torcia pela primeira vez no Havaí. Na mesma loja a reportagem apurou que havia camisetas dos dois atletas, mas adesivos apenas de John John.
Para o fotógrafo Sebastian Rojas, que está na 33ª temporada havaiana, a explicação para o clima surpreendentemente pouco amistoso com os brasileiros esse ano é simples. “Quando Medina ganhou o título mundial em 2015, não havia nenhum havaiano na luta pelo título, e sim australianos com Mick Fanning e Julian Wilson, rivais históricos dos havaianos. Com Adriano Mineiro em 2015 foi a mesma coisa. Agora pudemos sentir os locais torcendo em casa, mas não tive nenhum problema para fazer meu trabalho”, diz.
Por Kátia Lessa – colaboradora da Folha no Havaí