A Federação de Surf do Estado de São Paulo (SPSurf), concomitantemente aos eventos estaduais que vem realizando pelo litoral paulista também tem dado uma atenção especial a um assunto muito importante que envolve diretamente a mulher surfista, por meio de sua Diretoria de Surf Feminino, comandada pela bacharel em direito e surfista Maria Carolina Fornazari Golla, a Keiks, que realizou o II Segundo Encontro Online de Surf Feminino, no dia 9 de março, de 2023, com a presença de Liliane Lopes Doretto (Delegada de Polícia).
Também estiveram presentes Mayra Ziober (fotógrafa da SPSurf ), Fabiana Rodrigues Tuffi (Canal Série Delas), Luisa Abreu (OAB Guarujá), Ana Carolina Moura Dellaretti (Associação Feminina de Surf – Bertioga), Tatiana da Mata (Sicrupt) e Diolanda Vaz (Idealizadora da Associação Brasileira de Surf Feminino).
Neste segundo encontro, além das participantes discutirem a repercussão positiva e conscientizadora do primeiro, que deu o start para a construção de questões entorno do assunto da violência contra a mulher no cenário do surf paulista e, também, de relatarem novos fatos, elas puderam dirigir diretamente perguntas à Liliane Lopes, que além de delegada de polícia é surfista e já se sentiu discriminada quando teve o seu primeiro contato com o esporte.
“Quando procurei uma escola de surf para começar a prática, o professor na ocasião me recebeu com a seguinte frase: ‘ você é muito patricinha para surfar’ “, contou Liliane, que imediatamente procurou outro profissional para aprender a surfar.
A delegada esclareceu ainda que em casos de tentativa ou de efetiva lesão corporal contra as mulheres na prática do surf, ou casos de injúrias, qualquer delegacia tem competência para registrar o B.O. e orientou ainda que, caso a delegacia se recuse a registrar o BO, há a possibilidade de registrar o BO online. Recomendou ainda que a delegacia que tenha se recusado a fazer o registro seja denunciada à Corregedoria.
Liliane trouxe ainda informações muito importantes sobre o cenário mundial da defesa da mulher, como o fato do Brasil estar muito à frente de países da Europa, tendo em vista que somente aqui há delegacias especializadas (DDM). Ressaltou que a nossa luta é longa, nossas queixas são válidas, mas que apesar de tudo, nossas leis e estrutura são referência e exemplo. “Não há falta de leis sobre o assunto, o que falta é conscientização e discernimento”, esclareceu.
Contou ainda que diversas mulheres usam a lei de forma leviana, com falsos crimes de gênero para benefício próprio, que não veem como isso prejudica a elas próprias e a todas as mulheres.
Como sugestão, a delegada ainda orientou que nós, surfistas mulheres devemos tentar evitar surfar sozinhas, procurar sempre estar em grupos para assim ter mais segurança, testemunhas e até ajuda entre si para lidar com situações desconfortáveis e acidentes. Estamos em busca de um ambiente ideal no surf, mas a igualdade e a aceitação das mulheres no mar ainda não é uma unanimidade.
Consenso deste encontro foi de que a violência contra as mulheres no surf, seja ela física ou verbal, é um fato e tem se apresentado cada vez mais presente e que o combate a essa violência depende da educação, conscientização e união de todos os surfistas por um bem maior que é a prática do esporte com inclusão para todos.
O próximo encontro online para dar sequência ao assunto promovido pela SPSurf por meio da sua Diretoria de Surf Feminino ainda está sendo estudado, porém, quem tiver interesse em participar do pode se manifestar pelo Instagram pessoal da Keiks, Diretora de Surf Feminino da SPSurf, por meio do seu Instagram pessoal @keiksland.
A Federação de Surf do Estado de São Paulo repudia qualquer tipo de violência e sabemos que, infelizmente, violência contra a mulher não tem data e nem local para acontecer. Mas tampouco podemos normalizar e admitir que casos assim continuem ocorrendo, especialmente no ambiente praiano, onde nos encontramos para nos divertir e principalmente surfar. Estamos sempre ao lado do justo e contra as desigualdades sociais, do machismo, do racismo, da homofobia e de todas as outras formas de preconceito.