Filipe Toledo, o “Rei de Saquarema”

Festa brasileira na chegada dos finalistas na arena do evento (Crédito: @WSL / Daniel Smorigo)Festa brasileira na chegada dos finalistas na arena do evento (Crédito: @WSL / Daniel Smorigo)

Filipe Toledo já pode ser coroado como o “Rei de Saquarema”, pelo incrível tricampeonato consecutivo conquistado no Oi Rio Pro na Capital Nacional do Surf. A terça-feira foi mais um dia de boas ondas e praia lotada em Itaúna, para assistir o show de surfe dos melhores do mundo na etapa brasileira do World Surf League (WSL) Championship Tour. Os títulos ficaram com quem usava a lycra amarela de número 1 do ranking. A pentacampeã mundial Carissa Moore, venceu na onda surfada nos últimos segundos, enquanto Filipe já abriu a decisão com Samuel Pupo com nota 10 em um aéreo na primeira onda. As vitórias valeram ainda o “Troféu Mano Ziul”, por terem batido os recordes de pontos das duas notas computadas.

“Saquarema é um lugar muito especial, que eu gosto muito, que eu venho desde criança competir nos amadores e hoje estou aqui no Circuito Mundial. É muito gratificante, porque o carinho dessa galera local, não tem em nenhum lugar do mundo”, disse Filipe Toledo, que só perdeu uma bateria desde que a etapa brasileira mudou para Saquarema em 2017 e tinha vencido as duas últimas edições, em 2018 e 2019. Ele já havia sido campeão do primeiro Oi Rio Pro da história, em 2015 no Postinho da Barra da Tijuca, também com um aéreo nota 10 na grande final.

Agora, Filipe Toledo iguala um recorde histórico de Dave Macaulay, único que conseguiu quatro vitórias em etapas válidas pelo título mundial no Brasil. As do australiano foram em 1986 em Florianópolis (SC) e em 1988, 1989 e 1993, na Barra da Tijuca (RJ). Mas, Filipinho é o primeiro a conquistar um tricampeonato consecutivo, em 2018, 2019 e 2022, completando quatro títulos nas seis edições da história do Oi Rio Pro, iniciada em 2015 com sua primeira vitória.

Esta edição de 2022 já tinha entrado para a história como a maior arena já construída em eventos do World Surf League Championship Tour, por ter sido a primeira vez que seis brasileiros passaram para as quartas de final de uma mesma etapa e por ter sido a primeira com duas semifinais 100% verde-amarelas. E os quatro deram um show no último dia, principalmente nas esquerdas da Praia de Itaúna, que estavam melhores na terça-feira.

A decisão brasileira foi a última a entrar no mar e os dois erraram nas primeiras ondas que surfaram. Samuel Pupo tinha a prioridade de escolher a próxima e entrou numa direita, sobrando a esquerda para Filipe Toledo, que formou a rampa para ele mandar um aéreo muito alto, fazendo o giro completo com grande amplitude e aterrissando com perfeição. Os juízes deram a segunda nota 10 unânime do Oi Rio Pro apresentado pela Corona. O primeiro tinha sido no tubaço do Caio Ibelli nas direitas e esse agora foi em um aéreo nas esquerdas, com a Praia de Itaúna justificando ser conhecida como o Maracanã do surfe brasileiro.

Filipe e toda a praia vibraram pela nota 10 e logo ele acha outra esquerda, que abre a parede para mandar uma combinação de duas manobras muito potentes de backside, que valeram 8,67. Só depois, enfim Samuel Pupo consegue uma esquerda boa também, para mostrar o surfe agressivo que o levou até a primeira final da sua carreira no CT, passando pelo campeão olímpico Italo Ferreira nas semifinais. Samuca ganha nota 8,00 nessa onda e Filipe pega um belo tubo numa direita, que recebeu 7,33. Depois, não entraram mais ondas boas e Filipe Toledo festejou sua quarta vitória no Oi Rio Pro e o tricampeonato em Saquarema, com um novo recorde de 18,67 a 10,73 pontos.

“Eu acho que a final é aquele momento que a gente não tem nada a perder. Ou é primeiro ou é segundo, então é quando eu dou meu máximo, dou meu melhor”, disse Filipe Toledo. “Eu tava tentando deixar o melhor pro final e deu certo. O Samuel foi pra direita, sobrou uma sessão ali pra esquerda e foi o tempo de dar um aereozão. Eu estou muito feliz, feliz pelo Samuel e pelo resultado de todos os brasileiros. Quero agradecer também ao meu time (se emociona), obrigado por todo o carinho, todo o suporte, aos meus patrocinadores e, por último, quero dedicar essa vitória ao Mano Ziul, que está olhando por nós agora”.

A referência é para o mago da computação no surfe, Mano Ziul, que faleceu há duas semanas e foi homenageado pela organização do Oi Rio Pro apresentado por Corona, com um troféu especial oferecido para a maior somatória nas duas notas computadas nos resultados das baterias, sistema criado por ele, entre tantas outras inovações. A terça-feira começou com Samuel Pupo com as mãos nessa taça, pelos 17,00 pontos da vitória sobre o nota 10, Caio Ibelli, nas oitavas de final na segunda-feira. No último dia, Filipe Toledo ultrapassou essa marca com os 17,36 da semifinal com Yago Dora, depois com os 18,67 da final.

“Bora Saquarema!!!”, gritou Filipe Toledo, no pódio para a torcida. “Primeiramente, quero agradecer a Deus por tudo que Ele tem feito na minha vida, na vida da minha família, porque sem Ele, eu não estaria aqui. Depois desse momento difícil que todo mundo passou, estar aqui hoje reunido com vocês, com essa energia, não tem preço e esse título fica aqui no Brasil!!! Quero parabenizar ao Samuel (Pupo), ao Yago (Dora), ao Italo (Ferreira), todos que chegaram nas semifinais, nas quartas de final, os brasileiros que fizeram história nesse evento”.

Samuel Pupo também ficou feliz pelo resultado, pois a final no Oi Rio Pro apresentado por Corona, foi a primeira da sua carreira. O feito inédito foi mais especial, porque seu pai, Wagner Pupo, também tinha feito uma final na Praia de Itaúna em 2007, quando disputava o Circuito Brasileiro Profissional. Igualmente ficou em segundo lugar, como o filho agora. Samuca está estreando na elite mundial esse ano e, o vice-campeonato em Saquarema, o levou da 17.a para a 11.a posição no ranking das oito etapas do CT 2022, completadas no Brasil.

“O Filipe começou com um 10 numa onda que eu poderia ter bloqueado (por estar com a prioridade), uma esquerda e eu acabei indo pra direita”, destacou Samuel Pupo. “Depois, ficou muito difícil para recuperar, porque o mar deu uma acalmada, não veio muita onda, então parecia que estava tudo indo a favor dele. Mas, estou muito feliz por ter feito a final. Com certeza, esse é o melhor dia da minha vida, mas o ano não acabou e já estou com muita vontade de competir de novo. Não vejo a hora de ir pra J-Bay e dar meu melhor lá”.

Outro grande momento de Samuel Pupo foi vivido na semifinal com o campeão mundial e medalhista olímpico, Italo Ferreira. Os dois competiram numa hora do mar que não entraram muitas ondas boas, com Samuca largando na frente com notas 6,17 e 5,27 nas duas primeiras que surfou. Italo só conseguiu reagir no final e quase se classifica na última onda, mas a nota 5,73 recebida foi insuficiente. Por 11,44 a 10,83 pontos, Samuel avançou para a sua primeira decisão de título em etapas do CT, neste seu primeiro ano na divisão de elite do esporte.

“Sem dúvida, está sendo muito especial pra mim esse evento”, disse Samuel Pupo. “Ter toda a torcida aqui me motivando, minha família também e fazer minha primeira final na frente de todo mundo, vai ser incrível. O Italo é sempre um cara difícil de ganhar, por isso ele tem tantos títulos na carreira. Mas, nessa fase do campeonato, está todo mundo muito confiante. Eu estava bem confiante também, sabia que poderia ganhar dele e deu tudo certo”.

A segunda semifinal foi mais eletrizante, porque entrou boas ondas para os dois darem um show, principalmente nas esquerdas da Praia de Itaúna. Yago Dora mostrou a força do seu frontside combinando batidas e rasgadas executadas com pressão e velocidade, que valeram nota 8,67. Filipe Toledo deu o troco na mesma moeda, só que surfando de backside, mas atacando forte para começar com 8,43 na primeira onda. Depois, achou outra boa e repetiu a dose, selando a classificação para sua quinta final nas oito etapas do CT 2022, com um novo recorde de 17,36 pontos a 15,34 do Yago Dora, que repetiu o terceiro lugar em 2017.

Carissa Moore e Johanne Defay no pódio do Oi Rio Pro em Saquarema (Crédito: @WSL / Thiago Diz)

Carissa Moore e Johanne Defay no pódio do Oi Rio Pro em Saquarema (Crédito: @WSL / Thiago Diz)

Na categoria feminina, Carissa Moore primeiro acabou com a esperança de uma segunda vitória brasileira em etapas do CT em casa, derrotando Tatiana Weston-Webb na segunda semifinal. A primeira tinha sido vencida pela francesa Johanne Defay, então a decisão do título do Oi Rio Pro apresentado por Corona em Saquarema, seria uma reedição da final da etapa de G-Land. Johanne derrotou a havaiana na Indonésia, mas a pentacampeã mundial deu o troco na Praia de Itaúna e conquistou sua segunda vitória no Brasil. A única havia sido em 2011 na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.

Carissa Moore comemorou um título que lhe escapou na última edição do Oi Rio Pro em Saquarema em 2019, contra a australiana Sally Fitzgibbons. Esta era a quarta final que a havaiana disputava esse ano e a primeira vitória veio de forma dramática. Johanne Defay vinha mostrando um backside agressivo nas esquerdas de Itaúna e liderou toda a bateria, com a nota 7,50 da sua melhor onda. Só nos últimos segundos, Carissa Moore acha uma esquerda que arma a parede para atacar forte de backside duas vezes. Ela precisava de 6,41 para vencer e recebeu nota 9,50, virando o placar para 15,43 a 12,33 pontos.

“Estou muito emocionada neste momento”, disse Carissa Moore, chorando de emoção. “Tem sido um ano bem difícil, que você começa a duvidar do que tá fazendo. Eu já estava me conformando com a vitória dela (Johanne Defay), mas veio aquela onda no final que foi incrível. Eu estava rezando para acertar a última manobra e eu quase nunca faço um ‘claim’ (comemoração). Mas, não tive como me segurar dessa vez. Só tenho que agradecer ao fato de estar ao lado de pessoas tão legais, que fazem eu me sentir amada e estou muito feliz”.

Com a vitória no Oi Rio Pro apresentado por Corona em Saquarema, Carissa Moore repetiu um feito que Filipe Toledo já havia conseguido na segunda-feira, o de garantir por antecipação a vaga entre os top-5 do ranking, que vai disputar os títulos mundiais da temporada no Rip Curl WSL Finals, em setembro na Califórnia. Restam apenas mais duas etapas para definir os outros quatro concorrentes e as outras quatro classificadas, a de Jeffreys Bay na África do Sul e a dos temidos tubos de Teahupoo, no Taiti.

Além de Filipe Toledo, só tem mais um surfista da seleção brasileira neste grupo, Italo Ferreira, que tirou o terceiro lugar no ranking de Griffin Colapinto. O vice-líder continua sendo o australiano Jack Robinson e o californiano caiu para o quarto lugar, com outro australiano fechando os top-5, Ethan Ewing. No ranking feminino, Carissa Moore é a líder, seguida por Johanne Defay, Lakey Peterson, Stephanie Gilmore e Brisa Hennessy, com Tatiana Weston-Webb subindo do nono para o sexto lugar na etapa brasileira do CT em Saquarema.

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