Daniks Fischer fala com o InnerSport

Daniks Fischer, ex-campeão paulista e brasileiro de surf, é um daqueles surfistas de alma, que experimenta qualquer equipamento utilizado para deslizar nas ondas do mar. Em 96, na Indonésia, efetuou um salto de “bungee jump”, com uma prancha. A cena foi registrada, e como não poderia ser diferente, “rodou” o mundo e originou sua logomarca.

O InnerSport “ancorou” em São Vicente e manteve contato com o atleta veterano que mora no Litoral Sul de São Paulo, mais precisamente, na Baixada Santista e numa conversa descontraída descobrimos um pouco mais sobre sua vida profissional, o quê almeja para o futuro, relembrando, inclusive, quando surfou um tubo em Jaws (2007), em uma das suas 16 temporadas havaianas, e foi elogiado pelo renomado campeão mundial Garret Mc Namara, tornando-se notícia nas mídias locais.

Fischer dedica parte de seu tempo para causas sociais, através da Associação Suprema, a qual preside, além de manter uma escolinha de surf totalmente gratuita para crianças com o objetivo de conscientizá-las e acrescentar valores sobre o meio ambiente. Nos últimos anos ingressou na política, pois acredita que, quanto maior o número de surfistas alcançarem espaço neste cenário, consequentemete, o surf também será beneficiado.

Jornalista de formação, Fischer, cursa sua segunda faculdade, Direito, e há poucos meses, assumiu a presidência da Associação São Vicente de Surf (ASVS), com o foco voltado ao fortalecimento do surf vicentino. A entrevista que vocês terão a oportunidade de ler, recordará esses e outros assuntos sobre um dos Big Riders brasileiros que já dropou ondas havaianas, surfou Mavericks, na Califórnia, entre outras “morras” mundo afora. Segundo Daniks, foi o primeiro a investir num jet-sky no Brasil, em 98, para a prática do surf rebocado e já praticou tow in ao lado de Big Riders renomados como Romeu Bruno, Formiga, Carlos Burle e Eraldo Gueiros. Confira!

Como profissional, quais títulos você já alcançou?
Como profissional ganhei uma etapa do Paulista em Santos, que valia para o Circuito brasileiro. Fora isto, conquistei alguns pódios na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Também cheguei a uma semifinal do WQS na Indonésia.

Durante alguns anos você esteve envolvido no circuito universitário de surf, sendo vencedor em alguns. Conte-nos um pouco sobre a sensação da vibe das competições, considerando a sua experiência nos circuitos profissionais?

A experiência nos eventos profissionais foi muito agregadora principalmente pela versatilidade que adquiri em várias categorias como, por exemplo, surfar com pranchão, pranchinha, e Stand Up. Isso possibilita muita habilidade e precisão na hora de finalizar as manobras, o que acaba interferindo na pontuação. Acredito que esta versatilidade me ajudou a vencer no Universitário.

Divulga-se muito sobre os nossos atletas de TOW-IN, porém, pouco sobre os picos brasileiros para a prática do mesmo. O que você pode nos contar sobre esses locais?
Os picos conhecidos não precisam ser contados (risos). Mas, a Garganta do Diabo, onde treino, em São Vicente, é alucinante, nada tão heavy como outros picos espalhados pelo Brasil, porém, é um playground para um surf em ondas medianas. Existem várias lajes sendo desbravadas. Na verdade, ninguém comenta muito, para evitar o acúmulo do crowd.

Qual a situação mais “cabulosa” que você passou fazendo TOW-IN?
Foi numa situação em que soltei a corda que puxa o surfista e fiquei no meio do caminho de vários outros jets ao tentar entrar numa onda sem sucesso, em Jaws. Rola um pavor tremendo achar que alguém pode te atropelar, ou, que a série (ondulação) pode te pegar (risos).

Qual foi a emoção que você sentiu ao se tornar notícia no Hawaii ao dropar Jaws gigante?
Mais que a emoção pelo fato de se tornar notícia, foi o fato de surfar um tubo de backside (costas para onda) numa onda de 10 metros e ouvir do surfista campeão mundial de big surf Garret Mc Namara dizer que se eu fiz isso ali (em Jaws), consigo em qualquer outro lugar (risos). Não tem preço (risos). Fiquei emocionado (risos).

A prática do stand-up é relativamente nova no Brasil, contudo, já ganhou vários adeptos. Quais as condições ideais para a prática? É necessário algum preparo físico especial? Qual é o equipamento apropriado?
Já ganhou vários adeptos porque não existe nenhum preparo físico específico, além do que, não é tão difícil quanto parece. O SUP, em regra, acaba sendo o próprio preparo físico (risos). É a oportunidade que o surfista consegue ter a sua família envolvida com o esporte, pois a facilidade para se equilibrar num SUP permite com que qualquer pessoa, independentemente do físico ou idade, divirtam-se com facilidade. Para iniciar é melhor num local sem ondas, porque se pratica a remada na essência. Com o tempo, o interessado busca evoluir e o desafio é entrar nas ondas e surfá-las harmonicamente com o remo. Justamente por isso, o legal é ter no mínimo dois tipos de pranchas, uma maior, para remadas longas, e, outra, menor, para surfar nas ondas. As medidas dos remos e quilhas influenciam na performance.

Em 2012, você completará 30 anos de surf, dedicados ao free surf e ao profissional. Você acredita que algo mudou internamente com relação ao esporte?
Sim, bastante coisa! Como sempre viajei muito e fui versátil nas diversas categorias do surf, e, hoje, me considero um veterano, não tenho mais tantos desafios a buscar no surf como atleta dentro daquilo que sempre desejei. Mas, como o surf é minha paixão e me proporcionou muita coisa na vida, tenho uma espécie de dever moral de trabalhar o lado político, organizacional, incentivando os mais jovens e também fomentar a indústria do surf, ainda que os esforços sejam desgastantes. No fim, tudo gera uma satisfação e nos preenche qualitativamente.

Falando de carreira política, visto que você já se candidatou à vereador, trabalhou com o deputado federal Willian WOO e exerce a presidência na Suprema e ASVS, sinaliza que teremos um surfista na próxima eleição? Se positivo, quais suas propostas para o surf?
Bem, como já me candidatei a vereador em São Vicente nas últimas duas eleições, tendo sido bem votado na última, e articulado muitos recursos para o Surf com o então deputado William Woo, é inegável que meu nome não apareça como pretenso candidato na próxima. Entretanto, devo lembrar que, quando me candidatei em 2004, eu tinha uma forte dificuldade, na época, de ser recebido por vereadores e até pelo prefeito para implementar um projeto de bolsa-atleta para surfista profissional em São Vicente. Passado o tempo, e graças a (sem crase) Deus, adquiri um leque de relacionamentos que me permite ser recebido por vereadores, secretários, deputados e até pelo prefeito, de maneira que, se eu tiver condições de desenvolver projetos para o surf e, assim, sua cadeia produtiva ser atendida não vejo mais o porquê de me candidatar. Mas, como assumi novos compromissos e aumentei minha rede de relacionamentos, a decisão não caberá somente a mim. Mas, uma certeza eu tenho se me candidatar, trabalharei muito para dignificar ainda mais o esporte Surf.

É notório que houve muitas mudanças no surf, desde a performance dos atletas à formatos de campeonatos. Quais foram as mudanças no cenário político em prol do surf?
Em se tratando de política em prol do surf, e não de política do surf, vejo que os políticos perceberam, há certo tempo, que o surf agrupa uma diversidade de pensamentos e formadores de opiniões. O povo consome o Surf e isso traz votos. O segmento tem mídias especializadas. Pesquisas mostram que o número de pessoas simpatizantes é cerca de 10 vezes maior do que o número de praticantes. São pessoas que vestem as mesmas roupas, freqüentam os mesmos lugares e admiram os ídolos do esporte. Mas, na contramão desse progresso, a veia que pulsa o setor está obstruída. Nós temos um corpo (uma indústria), sarado por fora, mas enfermo por dentro. Os atletas estão carentes de patrocínios. E é aí que mora o perigo, pois a eminente participação política, cada vez mais presente no surf, não rompe paradigmas e ataca sistematicamente essa carência, eles atuam na distribuição de cargos para a maioria dos dirigentes acreditando que apoiar as entidades é como se estivesse apoiando o surf e seus atletas. Assim, estes (dirigentes), ao invés de aproveitar o bom trânsito com os políticos e sair em defesa de excelentes programas de incentivo aos atletas, tendem a se acomodar, e os políticos, que em regra, não são surfistas, entendem que estão sendo bem representados neste nicho eleitoral. Isso é um engano. Mas, de uma forma geral, o surf está bem mais presente na vida política do que o político na vida do surf. Isso tem que mudar.

Na sua opinião, o que é mais difícil no cenário político: conscientizar a população sobre a positividade do surf, ou favorecer o surf e o esporte em geral?
Sem dúvida é conscientizar a população da importância do surf no contexto socioeconômico. Pois o surf e o esporte em geral, ainda que com as carências parcialmente citadas, eles são vistos como ferramentas de desenvolvimento social, e os políticos, ainda que limitadamente, fazem algo. Já no primeiro aspecto, as pessoas precisam entender que o surf é muito mais que dropar uma onda, além de esporte, lazer e saúde, é um segmento capaz de movimentar a economia nacional em pelo menos mais de 5 bilhões de reais ano, por meio de sua cadeia produtiva. Qualquer programa de incentivo atingirá ao menos uma pessoa a cada seis famílias no país.

Daniks, fale um pouco sobre seus projetos com crianças na cidade de São Vicente?
Como dirigente esportivo, fundei minha escolinha de surf para crianças e adolescentes em 2003. Lá, sempre dei aulas gratuitas por meio do projeto Educando na Água. Com o passar do tempo me tornei conselheiro municipal dos direitos da criança e do adolescente, em São Vicente. Tenho forte atuação na rede municipal por meio de projetos que seguem a linha surf, como oficinas de costura, de fabricação de pranchas, pintura, artesanato, etc. Ano retrasado fiz a Copa Colegial de surf para crianças e adolescentes e a inscrição era uma redação com o tema surf e meio ambiente. Foi um sucesso! Posso afirmar que é uma grande satisfação ocupar meu tempo com afazeres desse tipo. Agradeço muito a Deus por me dar saúde suficiente para tantas tarefas.

Quais os seus planos para 2011?

Pretendo continuar nos projetos da Sociedade Unida em Prol do Esporte e Meio Ambiente (Suprema), inovar, e, avançar nos trabalhos da Associação São Vicente de Surf (ASVS), prosseguir com meus estudos na faculdade, participar de vários campeonatos de pranchinha, Tow-in, Stand Up e Longboard, continuar com os meus canais de comunicação, buscar paz de espírito, além de continuar dando total atenção aos meus familiares e amigos. Tudo isso focado no crescimento do surf de São Vicente e dos vicentinos.

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