A cultura rebelde no surf acabou?

Reprodução do site SurfTotal. É difícil descrever hoje em dia o que é a rebeldia no surf, prevalece uma espécie de “ senso comum”, do politicamente correto, da domesticação através das mídias. O conceito de rebelde no surf provavelmente já não existe, basta vermos as coletivas de imprensa dos surfistas na WSL. Na sua esmagadora maioria são todos politicamente corretos e tornando-se muitas vezes irritantes. Salvo algumas exceções como CJ Hobgood (já retirado) pela carga emocional como fala, Mason Ho pela sua graça ao melhor estilo stand up comedy ou mesmo Kely Slater sempre inteligente nas suas análises.

Dadá Figueredo / Foto reprodução Revista Trip

Dadá Figueiredo / Foto reprodução Revista Trip

O maior símbolo do surf rebelde de todos os tempos talvez seja Miki Dora “the cat”, surfista de Malibu – Califórnia nos anos 50/60, preso duas vezes, uma pelo FBI por fraude e falsificação de cheques para poder viajar pelo mundo e só surfar. O lema: “a liberdade de surfar sem trabalhar”, nem que para isso fosse preciso rouba. Nos anos 70 surgem as drogas  pesadas que “rotularam” o surf de marginais, de forma enganadora e esmagadora, diga-se! Mas, muitos bons surfistas nos anos 70/80 foram vítimas desta teia do vício. Época em que muitos surfistas perderam vidas, chances, entre outras coisas.

Nos anos 90 os surfistas passam do estereótipo de ”marginais e drogados” a “cool” e os rebeldes dos anos 90 consistem em ser mais contra a cultura do próprio surf , Christian Fletcher e Matt Archbold são os anti heróis tatuados do momento, surfistas cheios de talento e criatividade que criticavam a atitude dos Pro Surfers, mais focados no dinheiro, fama e competições. Dáda Figueiredo, carioca da zona norte do Rio, no início dos anos 80 dizia que os melhores dias para surfar eram quando o Brasil jogava no mundial e o crowd vazava. Anti-social, muito carismático e cheio de talento, é o expoente máximo do surfista underground brasileiro na época.

Na terra do Duke existiu sempre o “rebelde agressivo” Johnny Boy Gomes, Sunny Garcia e Makua Rothman, nesta sequência. São alguns bons exemplos, mas todos eles provém da intimidação pelo localismo, a meu ver a rebeldia não é isso (surge na sua essência de um estado solitário e individual) mas há outros, não tanto pela agressividade mas pela sua personalidade irreverente, como Bruce Irons que chegou a perder todos os patrocínios apesar de ser um destemido e extraordinário “tube rider” nunca foi um grande competidor e o seu irmão Andy, três vezes campeão do mundo, tinha um lado instável que o levou a cometer muitos excessos acabando por morrer precocemente aos 32 anos.

Na mudança do século o mais parecido com rebelde, para além dos imãos Irons, são os casos de Bobby Martinez e Dane Reynolds, Bobby saiu do circuito mundial sem papas na língua criticando a ASP (antiga WSL ) de forma violenta e dura, Dane Reynolds há mais de dez anos que não sabe o que há de fazer com tanto talento e fama, é uma espécie de surfista deslocado mas genuíno.

Enfim, é difícil descrever hoje em dia o que é a rebeldia no surf, prevalece uma espécie de “senso comum”, do politicamente correto onde todos se comportam em conformidade um pouco em sintonia com o que se passa na cultura pop no momento. Os surfitas alternativos de hoje em dia são diferentes por ser ECO: Surf ECO Resort, Pranchas de madeira ECO, Roupas de surf ECO, Surf camps ECO , Discursos ambientais ECO, estes sufistas procuram sair do mainstream comercial que o surf tornou-se mas o mainstream já virou ECO também.

Por Bernardo (Giló) Seabra
SurfTotal

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