O swell das pororocas

Pororoca do Rio Mearim-MA / Foto Jeremy Dias Pororoca do Rio Mearim-MA / Foto Jeremy Dias

Nos últimos dias os Litorais Norte e Nordeste do Brasil têm recebido ondulações que definitivamente entraram para a história do surf brasileiro. Contudo, não são somente as ondas do mar que estão fazendo a alegria da “surfistada” dessas regiões. As ondas dos rios, conhecidas como Pororoca, também têm apresentado excelentes condições para a prática do surf em água doce e a ABRASPO-Associação Brasileira de Surf na Pororoca, tem aproveitado a temporada de altas ondas para promover diversas incursões ao fenômeno. E anuncia que a próxima Lua Cheia será a melhor pororoca do ano e também que ainda teremos pelo menos quatro boas luas ainda nesse primeiro semestre, onde a pororoca deverá vir com toda a sua força para a alegria dos amantes das ondas de maré.

João Guilherme e Jerônimo Minhoca na Pororoca do Rio Mearim, Amazonas / Foto Jeremy Dias

Única entidade com Chancela da CBSurf autorizada a realizar operações oficiais de surf na pororoca em águas brasileiras, a Abraspo tem tido um ano bem movimentado. A primeira operação de sucesso foi em fevereiro, na Circunavegação do Arquipélago do Marajó, quando toda Diretoria da entidade se reuniu para dar suporte à gravação de um documentário que será exibido pela gigante da comunicação mundial, BBC de Londres, em parceria com a CBC do Canadá e France 5, da França. O objetivo do documentário era simplesmente mostrar como a pororoca influencia nas vidas dos ribeirinhos, tanto os surfistas, quanto os moradores locais das regiões onde o fenômeno ocorre. Mas, o que aconteceu, nem mesmo o mais experiente surfista de pororoca brasileiro, Noélio Sobrinho, esperava:

“Quando vi a onda surgindo no primeiro dia da operação, durante o mapeamento das bancadas, já deu pra ver o potencial do Canal do Perigoso, no Arquipélago do Marajó-PA. Mas, foi no dia seguinte que pudemos constatar que havíamos acertado na mosca e estávamos diante da melhor pororoca que já vimos desde a extinção da onda do Rio Araguari, no Amapá, que ficou mundialmente conhecida como o ‘Havaí das Pororocas’. Nesse dia, uma das sessões que surfamos quebrou uma onda que durou mais de 30 minutos com paredes longas e demoradas. Foi a onda mais longa que eu já surfei em mais de 260 expedições… Ali, percebemos que estávamos diante de uma força descomunal da natureza com potencial para a realização de campeonatos brasileiros, quebra de recordes mundiais e muito mais”, declarou o dirigente.

E as pororocas continuaram quebrando muito boas, naturalmente, sempre nas Luas Nova e Cheia. Depois do Marajó a Abraspo assessorou uma expedição com surfistas australianos às ondas do Rio Mearim, localizado no município de Arari, no Maranhão, onde mais uma vez pode constatar a qualidade das ondas que estão quebrando esse ano. A expedição, coordenada pelo pioneiro da pororoca, Gilvandro Júnior, constatou a força e a qualidade das ondas do Rio Mearim-MA, nessa temporada, comprovando que o Swell das Pororocas está tão constante e especial como os swell que têm enconstado em nossas praias.

De alguma maneira, a atração lunar, fenômeno físico que rege a formação das pororocas, tem influenciado as ondas nas praias e nos rios. Quem sabe um dia ainda possamos dispor de uma previsão de pororoca tão eficiente como têm sido as previsões de ondas nos mares.

As próximas expedições para a pororoca devem acontecer em abril. Entre os dias 30 de março e 01 de abril a Abraspo realizará o 20º Surf na Pororoca e o 18º Festival da Pororoca, na Capital Brasileira do fenômeno, São Domingos do Capim-PA. O evento é a festa mais antiga e tradicional de celebração da onda da mata brasileira que acontece em todo território nacional e anualmente, leva milhares de pessoas ao município paraense para ver a onda e também para participar das atividades culturais dos festejos, como o Pororoca Fight e os shows com grandes atrações musicais como Fauzy Baydum dentre outras estrelas que já se apresentaram no Palco Artístico da Pororoca.

Após a operação em São Domingos a equipe da Abraspo pega a estrada e vai para a Pororoca do Rio Mearim na mesma Lua Cheia surfar a melhor pororoca que está sendo esperadas para o ano, pois o rio já atingiu seus nível máximo de água e as marés ainda estão bem altas.
A justificativa para a tarefa hercúlea de surfar duas pororocas separadas por mais de 600km em uma mesma lua é a certeza de que, qualquer esforço é válido para se surfar a pororoca do Rio Mearim. Uma parede lisa de 50m que chega a quebrar por mais de 15 minutos sem interrupção. Um verdadeiro sonho pra qualquer surfista.

Além disso, a infraestrutura oferecida pelo município maranhense facilita a operação, sobretudo se compararmos com as pororocas do coração da Selva Amazônica. Em Arari você encontra pousadas com instalações bem honestas com quartos com ar-condicionado, restaurantes de comida regional, pizzarias, barzinhos e uma movimentação típica de uma cidade do interior.

A Abraspo continua sua missão de apresentar o fenômeno da pororoca a todos que quiserem ter uma incrível experiência amazônica e com toda segurança que somente uma equipe treinada, que coordena e executa operações em pororocas brasileiras e internacionais há mais de 20 anos, pode oferecer:

“Estamos muito felizes de ver exemplos como o do João Guilherme, que, com apenas 12 anos, já demonstra uma rara experiência com o fenômeno da pororoca, tendo sido o destaque de última expedição que fizemos”, comentou, Noélio que completou: “Nem todo mundo tem a sorte de ter um pai como Jerônimo Jr. Minhoca, Diretor da Abraspo que sempre fez questão de passar como herança para seu filho (João Guilherme) todo o seu legado de mais de 20 anos de surf na pororoca. É por isso que a Abraspo mantém o compromisso de proporcionar a todos que estejam dispostos a encarar o desafio do surf na selva, uma experiência segura e com todos os elementos que tornam o surf na pororoca algo único.

Por George Noronha

Compartilhe.