Um exemplo de vida e persistência. O paulistano Sandro Soares, de 33 anos de idade e 19 de skate, realiza ações sociais através do esporte há 11 anos. Nesta entrevista para o InnerSport, o skatista contou tudo sobre seu novo projeto social, da ONG Social Skate ao projeto Manobra do Bem, falou sobre sua missão na Fundação Casa e, também, sobre sua história de amor pelo skateboard.
O “Testinha”, como é conhecido o skatista, iniciou sua história com o skate aos 14 anos de idade, e através dele aprendeu muitas coisas para a sua própria vida como “cair e levantar, corrigir seu posicionamento e tentar de novo até conseguir o acerto”. Porém, não parou por aí, ele queria passar isso para frente e certamente conseguiu e vem conseguindo atualmente através de seu novo projeto, o Manobra do Bem. Sandro deu aulas de skateboard para internos da Fundação Casa (antiga FEBEM) durante dez anos, lá viu muitas crianças e jovens serem reabilitados por meio do esporte, que segundo ele possui valores “ocultos”. Desligado da Fundação no início deste ano, o skatista em nenhum momento pensou em desistir e hoje preside a ONG Social Skate e toca o projeto Manobra do Bem em sua própria casa, Poá (SP). Ele oferece, aos finais de semana, um café da manhã para mais de 30 crianças da comunidade e depois disso as aulas de skate, mas ele quer mais. Sandro é casado com a pedagoga Leila Vieira, responsável pelas oficinas de artes da ONG. Ambos têm dois filhos: Brenda e Breno.
Você passou 10 anos fazendo um projeto social na Fundação Casa (antiga FEBEM), quando você foi desligado, em algum momento pensou em desistir de trabalhar com crianças ou isso te deu ainda mais força? Enquanto eu estava trabalhando lá na CASA eu pensava assim: se um dia isso tudo acabar será que posso trabalhar em outra área que não seja a do skate e inclusão social? Mas, nunca encontrava uma resposta, e, quando eu fui desligado da Fundação, tive a certeza de que deveria continuar nessa missão e foi onde fundei a ONG Social Skate.
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| Sandro por muitos anos deu aula para jovens em conflito com a lei |
Nesses 10 anos, você viu muitas vidas serem resgatadas pelo skate? Qual história te marcou mais? Vi sim, mas na real não teve uma história em particular, mas sim várias. No dia do desfile da Sumemo sai cedinho de casa para buscar o Ruan Felipe (skatista deficiente físico vindo de Ribeirão Preto) e ao passar na esquina de casa um menino me chamou, ele estava trabalhando em um ferro velho aqui da comunidade e tinha sido meu aluno na CASA de Ferraz de Vasconcelos. Então a cada novo menino que vejo trabalhando se torna uma história especial e marcante para mim.
Hoje, você toca o projeto Manobra do Bem, dentro de sua casa, praticamente sozinho. A marca “Sumemo” e a “Central Surf” te dão apoio. O que te motiva a fazer essa ação com estas crianças de Poá? Quando sai da CASA tirei uma semana de férias com minha família, ao voltar pude observar a forma violenta e os muitos palavrões ditos pelas crianças da comunidade e pensei no que eu poderia ajudar a mudar essa realidade, essa foi a motivação inicial, o restante é como um vírus que toma conta da gente de querer realizar uma nova ação a cada final de semana. É claro que a ajuda da Leila é essencial para o sucesso da ação.
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| Testinha e sua turma do Manobra do Bem |
Como você acredita que o skate pode mudar a vida de uma criança? Na verdade o skate é um gancho, um atrativo que possui valores ocultos (cair, levantar, ouvir uma dica, corrigir posicionamentos e tentar de novo até conseguir o acerto). Se você utilizar essa fórmula na vida tudo ou quase tudo o que tentar dará certo, o demais você pode ensinar tranqüilo, pois na amizade do skate um costuma ouvir o outro e se ajudar mutuamente.
O projeto Manobra do Bem oferece, aos finais de semana, um café da manhã para mais de 30 crianças e, depois, as aulas de skate. Como você faz para manter financeiramente tudo isso? Temos uma ajuda de custo da marca de skate “Sumemo”, que cobre metade dos custos, a outra metade tento cobrir com a venda das camisetas, que agora são vendidas na loja virtual da “Central Surf”. Até este mês eu tinha o seguro desemprego, mas agora acabou essa verba.
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| Sandro no seu “rolé” |
Você é um cara que não da bola para os obstáculos, quando você sonha com o futuro do projeto, o que você enxerga? Hoje, a meta é transformar minha casa na sede da ONG Manobra do Bem, podendo estender as atividades com mais ações e além do café da manhã oferecer uma refeição digna para essa meninada, pois como dizia um amigo meu: ”barriga cheia, coração feliz”.
Qualquer criança pode participar das aulas gratuitas? Quais são os requisitos? Sim, qualquer criança pode participar independentemente da classe social, só é preciso chegar no horário e respeitar as regras de não brigar e nem dizer palavrões e o principal, estar matriculado e frequentando as aulas.
Se alguma empresa ou alguém quiser ajudar o seu projeto, como podem fazer isso? Podem ajudar por meio de doações, de preferência em materiais, mas quem quiser colaborar em espécie (R$) é bom entrar em contato ([email protected]) antes para já saber no que será usado o dinheiro, pois com dinheiro não se brinca e preferimos mostrar antes no que ele será aplicado.
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| Mike Vallely conheceu o trabalho e na ocasião doou alguns skates ao projeto |
O skate está presente no seu convívio desde criança, como ele alterou sua rotina de vida e o que ele representa para você? Todas as lições que passo para a meninada utilizando o skate foram lições que eu aprendi com ele, porém, sem ninguém para me mostrar isso. Segundo o skatista norte americano Mike Vallely, que esteve aqui em 2008, eu estou hoje devolvendo um pouco do que o skate me deu, o que não deixa de ser verdade.
Dia 10 de junho rolou o desfile da nova coleção da marca “Sumemo” e a “família Testinha”desfilou. Como foi o evento? Foi “animal”, eu tinha sido convidado no ano passado, mas por motivo de viagem não pude ir, e o Poisé (um dos proprietários da marca) disse que se eu não fosse esse ano eu estava “frito”(rs) e, como ele tem quase dois metros de altura não pude recusar o convite… Brincadeira! Na verdade acho que era para ser agora mesmo, com as camisetas da ONG e a presença do Ruan Felipe, que roubou a cena, além das crianças do projeto. Foi uma forma de agradecer a Sumemo por acreditar em nossa missão, foi tudo muito do bem, como é feito o Manobra do Bem.
Sandro Soares dos Santos, o “Testinha” de 33 anos e 19 com skate realiza ações sociais desde 2000.