Medina fatura o primeiro Surf Ranch Pro

Gabriel Medina/ Foto: WSL / Kelly Cestari)Gabriel Medina/ Foto: WSL / Kelly Cestari)

O Brasil segue fazendo história com mais um feito inédito no World Surf League Championship Tour 2018. Os brasileiros comandaram o show na primeira etapa disputada nas ondas perfeitas criadas por Kelly Slater em Lemoore, no deserto da Califórnia. Gabriel Medina foi o campeão do Surf Ranch Pro e Filipe Toledo ficou em segundo lugar na sétima vitória brasileira consecutiva nas oito etapas da temporada. Foi a segunda seguida de Medina, que diminui a vantagem de Filipe na briga pelo título mundial e agora vem as duas provas da “perna europeia” que ele venceu no ano passado, em outubro na França e em Portugal.

Gabriel Medina/ Foto: WSL / Kelly Cestari)

“Foi incrível ganhar de novo, especialmente aqui no Surf Ranch, nesse evento com um formato diferente, muito legal, e também foi bom para ficar mais perto do Filipe (Toledo)”, disse Gabriel Medina. “O Filipe é muito perigoso, provavelmente o melhor no Surf Ranch, por isso a vitória foi ainda mais especial. Estou muito feliz porque surfei do jeito que eu tinha planejado e deu tudo certo. É totalmente diferente você surfar no mar, mas foi muito legal o evento. Acho que é a melhor onda de alta performance que já surfamos e é bom sentir que estamos no mesmo nível dos outros caras. Temos mais três eventos pela frente para fechar o ano e espero seguir neste ritmo até o fim”.

No formato especialmente criado para o Surf Ranch Pro, com cada competidor tendo três chances de pegar uma esquerda e uma direita, para computar a maior nota surfando de frontside e de backside, os dois melhores do Qualifying festejaram os títulos no domingo, Gabriel Medina e Carissa Moore. A havaiana também foi imbatível na piscina, igualmente deixando a líder do ranking, Stephanie Gilmore, em segundo lugar. Gabriel e Filipe centralizaram a batalha final desde a primeira apresentação de cada um, com Medina sempre sendo o último a entrar por ter feito a melhor campanha nas fases classificatórias.

Ele viu o japonês Kanoa Igarashi largar na frente e logo Filipe assumir a ponta com seu arsenal de manobras modernas e progressivas na direita, surfando longos tubos e finalizando com um aéreo para ganhar 8,33 e totalizar 15,16 pontos. Medina falhou na esquerda, mas arrebentou a direita ficando bem profundo nos dois tubos e também fechando a onda com um aéreo para tirar 8,73 e começar em terceiro lugar na primeira rodada.

Na segunda volta, o outro brasileiro no domingo decisivo, Miguel Pupo, conseguiu a maior nota nas esquerdas até ali. Mas, o 8,13 não foi suficiente para entrar na briga do título e Pupo terminou em quinto lugar no Surf Ranch Pro, seu melhor resultado substituindo os tops contundidos esse ano. Já Filipe Toledo levantou a torcida na onda que arrancou a maior nota do Surf Ranch Pro – 9,80 – com seu ataque aéreo na direita. Foram três, mandando dois incríveis alley-oops nas saídas dos tubos para aumentar a vantagem na liderança. Mas, ainda tinha uma nota baixa na esquerda, 6,83, para trocar na última volta.

CHANCES IGUAIS

Medina também tinha falhado em sua primeira esquerda e já recuperou na segunda chance, manobrando forte e voando em um aéreo incrível na finalização da onda, que valeu 8,53. Com ela, atingiu 17,26 pontos, superando os 16,63 de Filipe e a batalha do título ficou para a rodada final. Só que alguns surfistas reclamaram da qualidade das suas esquerdas, então para oferecer condições iguais para todos, os comissários da WSL decidiram dar uma chance extra para os oito pegarem mais uma esquerda antes da última volta.

Bom para Filipe Toledo, que ganhou mais uma oportunidade para trocar o 6,83 da sua primeira onda. Mas, ele não conseguiu e quem primeiro aproveitou foi o japonês Kanoa Igarashi, que tinha caído para o grupo dos quintos colocados no evento e recuperou o terceiro lugar no geral com uma nota 7,60. Só que quem acabou lucrando, mesmo sem precisar, foi Gabriel Medina. Ele arrebentou de novo e mandou um kerrupt fantástico para fechar sua esquerda extra, trocando o 8,53 por 9,13 e subindo seu placar para 17,86 pontos.

Com 9,80 já garantido na direita, Filipe teria que arriscar tudo na esquerda para vencer e até aumentou sua nota para 7,23, mas precisava de um pouco mais e encerrou sua participação com 17,03 pontos. Restou então a expectativa pelas últimas voltas de Kanoa Igarashi e do australiano Julian Wilson, que também não conseguiram superar os brasileiros e Medina foi consagrado campeão antes mesmo de entrar na piscina para surfar suas últimas ondas.

“Eu cometi alguns erros durante todo o evento e se eu tivesse surfado melhor as esquerdas, poderia estar em primeiro lugar agora”, admitiu Filipe Toledo. “Mas, estou muito feliz por ter feito parte desse evento incrível. Esta é uma nova Era do surfe e só tenho que agradecer todos os fãs que vieram aqui e torceram bastante para a gente. Foi um grande evento e é sempre assustador competir contra esses caras. Eles estão entre os top-5 por alguma razão, mas sigo tentando me concentrar apenas em mim mesmo, em fazer meu trabalho bem feito para manter uma boa distância deles”.

SÓ DÁ BRASIL

A enorme torcida que lotou o Surf Ranch no domingo parecia ser toda verde-amarela, pela grande quantidade de bandeiras do Brasil sendo tremuladas numa vibração incrível por Medina e Filipe. Foi mais uma prova do domínio antes inimaginável na temporada 2018 do World Surf League Championship Tour. São impressionantes sete etapas seguidas terminando com vitórias brasileiras nas oito disputadas este ano. Só a primeira foi vencida por um australiano, Julian Wilson. Depois, só deu Brasil!

A série invicta começou com o potiguar Italo Ferreira badalando o emblemático sino do troféu de campeão do Rip Curl Pro Bells Beach, após ganhar a bateria que marcou a despedida do tricampeão mundial Mick Fanning na casa dele na Austrália. Depois veio o segundo título de Filipe Toledo no Oi Rio Pro em Saquarema e na Indonésia foram mais duas vitórias seguidas, com Italo Ferreira de novo nas direitas de Keramas e do novato na elite, Willian Cardoso, nas esquerdas de Uluwatu, batendo na final o líder do ranking naquele momento, Julian Wilson.

Filipe Toledo assumiu de vez a lycra amarela do Jeep Leaderboard com o bicampeonato consecutivo nas direitas geladas de Jeffreys Bay, na África do Sul. Ele se mantem na frente até agora, mesmo com a aproximação fulminante de Gabriel Medina nesta segunda metade da temporada. O campeão mundial de 2014 venceu duas seguidas, o Tahiti Pro Teahupoo e o Surf Ranch Pro neste domingo. Na perna europeia, ele vai defender o título no Quiksilver Pro France, onde já fez cinco finais e ganhou três, depois no MEO Rip Curl Pro Portugal em Peniche também. Os dois eventos acontecem entre os dias 03 e 27 de outubro.

BRIGA DO TÍTULO

A grande vantagem que Filipe Toledo tinha construído, caiu agora para 4.100 pontos. Assim como no Surf Ranch Pro, Medina é o único que poderá lhe tirar a lycra amarela do Jeep Leaderboard na próxima etapa. Mas, só consegue ultrapassar os atuais 49.785 pontos de Filipe se chegar nas quartas de final do Quiksilver Pro France. Se Filipe passar uma bateria em Hossegor, Medina já precisará ser semifinalista. Filipe se garante na ponta se também passar para as semifinais, mesmo que Medina vença o evento outra vez.

Com o australiano Julian Wilson ficando mais distante, a batalha do título nestas três últimas etapas do ano fica cada vez mais centralizada em Filipe Toledo e Gabriel Medina. O potiguar Italo Ferreira terminou em 13.o no Surf Ranch Pro e segue em quarto no ranking, mas já está quase 20.000 pontos do líder. Além dele, mais quatro brasileiros estão no grupo dos 22 primeiros que permanece na elite do CT para o ano que vem, o catarinense Willian Cardoso em 12.o lugar, o cearense Michael Rodrigues em 16.o, o campeão mundial Adriano de Souza em 18.o e o mais jovem da “seleção canarinho”, o catarinense Yago Dora, em 21.o.

Por João Carvalho

 

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