Festival homenageia as mulheres

Mais de 100 mulheres sobreviventes do câncer de mama deram uma aula de superação durante a competição realizada no último domingo (23), na Praia dos Milionários, em São Vicente. As equipes se formaram no mesmo dia da competição e foram divididas em duas categorias. A principal foi a Ka Ora, categoria composta apenas por mulheres sobreviventes do câncer de mama. A disputa foi feita entre sete times, e a Equipe 2-Proplastik levou a melhor, completando a prova em 1min43s71 e se sagrando a campeã. Em segundo lugar, a Equipe 7-Canoa Brasil fez o tempo de 1min47s, seguida da 6-Transbrasa, terminando a prova em 1min49s. Entre remadas de dez guerreiras da Equipe 2, uma delas chamou a atenção pela animação e espírito de equipe. Foi o caso de Larissa Lima, canoísta de Brasília e integrante da Canomama, considerada a primeira equipe brasileira de ´Dragon Boat’ formada no Brasil. “A sensação é de felicidade plena, as meninas foram incríveis. Todas são vencedoras. Prometi a mim mesma que, se sobrevivesse, me envolveria em um Dragon Boat. Esse é só o começo”, garantiu.

Festival Ka Ora / Foto Ivan Storti

Festival Ka Ora / Foto Ivan Storti

Participantes de outros países também se destacaram na prova. A neozelandesa Meri Gibson, vice-presidente da International Breast Cancer Paddlers´ Comission (IBCPC), responsável pela gestão e organização das regatas de Dragon Boat no mundo, também participou da regata. Ela, que é adepta da cultura “maori”, foi responsável por conduzir as batidas do tambor de uma das equipes. “É impressionante notar que as mulheres conseguem se comprometer plenamente, mesmo em equipes recém-formadas. Todas se ajudam. São mulheres vindas do Canadá, Brasil, Argentina… o espírito vencedor faz parte de cada uma delas. E a minha gratidão vai se renovando a cada dia”, afirma Meri, que rasgou elogios ao público brasileiro. “É impossível não dançar ao som da música brasileira, contemplando esta praia. Foi maravilhoso”, completa.

Outros destaques do Festival foram as competidoras argentinas, que animaram o evento. Junto com as brasileiras, elas deixaram a “rivalidade” entre os países e ressaltaram o espírito de “Hermanas” nas equipes. “O importante é que somos todas uma só. Estamos felizes e agradecidas por termos criado novas amizades, vínculos. Só o Dragon Boat poderia proporcionar”, disse Elena Campos, terminando a prova em segundo lugar. Entre as brasileiras, as mulheres do Instituto Neo Mama compareceram em peso na prova, representando as primeiras remadoras da Baixada Santista. “Muitas delas enfrentaram medos particulares, seja em relação ao mar, ou quanto às remadas. Sinto muito orgulho das meninas, pois se elas estão felizes, eu também me sinto plena”, explicou a fundadora da entidade, Gilze Francisco.

Festival Ka Ora / Foto Ivan Storti

Festival Ka Ora / Foto Ivan Storti

A segunda categoria, Sorteio, foi composta por competidores aleatórios, entre homens e mulheres, simpatizantes à causa do evento. As regatas de destaque foram a campeã Transbrasa-Jean Piaget, terminando a prova em 1min35s56, e a vice-campeã Proplastik-Opium, com o tempo de 1min47s. O Dragon Boat, canoa de origem milenar na China, foi adotado como o esporte oficial do combate ao câncer de mama, descoberta pelo médico esportivo canadense Don McKenzie, que também prestigiou a competição. De acordo com o especialista, a prática é considerada uma poderosa aliada para o resgate da qualidade de vida das mulheres que tiveram câncer de mama, inclusive.

Após a prova, uma cerimônia marcou a primeira regata de Dragon Boats, realizado na região da Baixada Santista. O público se emocionou ao acompanhar as participantes sobreviventes do câncer de mama jogando 250 rosas ao mar, em homenagem às mulheres que não resistiram à luta pela doença. Em seguida, todas foram premiadas pela organização da prova, com brindes e medalhas de participação, além das premiações por equipes. A iniciativa no Brasil partiu do canoísta Fábio Paiva que, há mais de uma década, trouxe ao País a canoa havaiana e também foi o pioneiro no País com o Dragon Boat. Emocionado, Paiva não poupou elogios às equipes participantes. “Essas meninas me emocionam todos os dias. E hoje foi a vez delas brilharem. Sempre ponho diversos monitores para atender todas as embarcações, mas nesta prova eu fiz a monitoria para todas as mulheres. Elas acreditam que estou fazendo um bem à elas, mas a verdade é que é justamente o contrário: elas me fazem muito bem”.

Festival Ka Ora / Foto Ivan Storti

Festival Ka Ora / Foto Ivan Storti

Marcos Rodrigues, que também atuou na organização do evento, reforçou o comentário de Paiva e diz que o dever ainda “não foi cumprido”. “Temos muito ainda que falar sobre o Câncer de Mama. Ainda existe muito tabu em nossa sociedade. Que o festival tenha ajudado, que possa conscientizar e incentivar mais as outras mulheres. Essas participantes de hoje deram um exemplo. Elas são felizes e têm uma grande noção de valor à vida”. Tanto Paiva quanto Rodrigues, organizadores do Festival, confirmaram que a ideia é dar sequência à prova de Dragon Boats no Brasil, se possível, novamente nas praias da Baixada Santista. “Queremos trazer o principal evento internacional em meados de 2018, 2019”, afirmou Paiva.

Por Fábio Maradei

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