Família vende empadas para filha correr o brasileiro de surf

Julie Arissa / Basilio Ruy Julie Arissa / Basilio Ruy

A pequena Julie Arissa é uma das grandes promessas do surf feminino catarinense e, sabendo disso, a família está disposta a buscar alternativas para que a atleta de apenas nove anos siga a sua trajetória. A menina nascida no Japão e que veio para o Brasil em 2011, para morar em Itapoá, já faz sucesso no Circuito Catarinense e tem tudo para melhorar suas performances. No ano passado, foi a quarta colocada da categoria sub10 no Brasileiro de Surf Feminino, em Ubatuba/SP, o único campeonato exclusivo para as meninas, e quer voltar para o litoral paulista para tentar a vitória. Para isso, a família não poupa esforços e a mãe, Elaine Nemoto, está vendendo empadas caseiras e fazendo rifas para angariar a verba necessária para a viagem.

Julie Arissa / Foto Basilio Ruy

“Devido ao custo alto de viagens, tivemos de pensar em várias maneiras de viabilizar a ida aos campeonatos. Como algum tempo atrás, antes do surf, eu fazia empadas para ajudar no orçamento e, modéstia à parte, são maravilhosas, decidimos fazer campanhas para arrecadar dinheiro com a venda dos produtos”, conta a mãe. “Além disso, fazemos rifas e sorteios”, complementa Elaine, que é professora de inglês e tem uma escola de idiomas em Itapoá.

A campanha de vendas de empadas, que teve uma ênfase no feriado de 7 de Setembro, repercute no comércio e comunidade local e é difundida pelas redes sociais atraindo a atenção de nomes importantes, como a de Jacqueline Silva, sem dúvida um dos grandes ícones da história do surf feminino brasileiro. A surfista que tantos anos representou o Brasil no WCT e chegou a ser vice-campeã mundial em 2002 compartilhou em sua conta a história sobre a venda de empadas, pedindo apoio ao novo talento.

Jacque é um dos destaques do Brasileiro Feminino, com o título brasileiro profissional em 2015 e o terceiro lugar no ano passado, e espera ver a “japinha” radical buscando uma vitória em Ubatuba. “Ajudem. Essa pequena atleta tem futuro, mas precisa ainda do apoio de todos”, comenta Elaine Namoto não esconde a ansiedade em conseguir seu objetivo. “Faço as empadas única e exclusivamente para angariar fundos para os campeonatos. Competir em Ubatuba é importantíssimo para nós. A Julie está muito feliz por ter a oportunidade de participar do evento”, destaca. Julie chegou ao Brasil aos três anos de idade. Depois da tragédia do Tsunami no Japão em 2011. “Na época morávamos em Kani, na região central do país. Não fomos atingidos diretamente, mas a radiação não tem barreiras e é invisível”, lembra Elaine. “Vimos ao vivo pela tv japonesa. Foi assustador. Viemos para o Brasil exatamente um mês depois do Tsunami”, complementa.

Começou a surfar aos seis anos, no Projeto da Prefeitura de Itapoá, chamado Ampliação da Jornada Escolar. A paixão pelas ondas foi rápida e, depois que a iniciativa foi encerrada por falta de verbas, a mãe decidiu procurar professores para aulas particulares. “Em dezembro de 2015, apareceu o convite para participar de um campeonato de surf de outro projeto, em São Francisco do Sul, chamado Escola na Onda, e ela ficou em terceiro lugar, competindo com os meninos. Depois disso, decidimos intensificar os treinos para que no ano de 2016 começasse a participar do Circuito Catarinense e ela terminou como vice-campeã sub12 e terceira na sub18”, conta orgulhosa a mãe.

Também no ano passado, ela participou do Brasileiro em Ubatuba, garantindo o quarto lugar na sub10. Ela é treinada pelo surfista Gabriel Castigliola e já incentivou o irmão mais novo, Brian Haru, de seis, a competir. “Estamos confiantes e animados”, enfatiza Elaine, lembrando os apoiadores atuais da filha: ”Deus, família, Pro Ilha, Tide Rise, Secretaria de Esporte e Lazer de Itapoá, Prefeitura de Itapoá, Up To You, Auto Posto Miranda, Itapema Motos, Anjos da Noite, Rodrigo Lopes Imobiliária, Panificadora Dom Rodolpho e o comércio local, que sempre nos auxilia da forma como pode. Eu sou muito grada a todos de Itapoá, que sempre compram nossas rifas, empadas e tudo mais”, completa.

Por Fabio Maradei

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