Fábio Gouveia fala com o InnerSport

Fia, Fabuloso, Fabinho, Gouveia, tantos nomes e apelidos para descrever uma só pessoa que fica difícil escolher. Para quem não sabe quem é Fábio, ou “Fabuloso”, ou “Fia”, ou, ainda Gouveia, segue a dica: assista ao premiado filme Fábio Fabuloso. Uma biografia documentada, que dará uma noção de quem é este ser humano tão especial.

Fábio Gouveia / Foto ondaspb

Fábio Gouveia nasceu em Bananeiras/Paraíba, na data de 26 de agosto de 1969.  Começou a surfar aos 13 anos e, desde então, jamais parou. Foi campeão mundial amador, no ano de 1988, em Porto Rico, e o primeiro brasileiro a vencer em Sunset, no Havaí, em 1991. Aos 41 anos, conquistou nas triagens o direito de competir no Hang Loose Pro 2011, e pôde disputar a primeira fase do evento com Ian Gauveia, seu filho, momento único em sua vida.

Por mais de 20 anos, Fábio Gouveia, competiu em eventos profissionais. Modalidade essa que, no campo profissional, agora está “nos pés” do filhão Ian Gouveia. O “cabra” (Fábio) é um cara brincalhão, profissional, melhor amigo, um ser apaixonado por sua família e esporte.

Gouveia com o título de vice no SuperSurf ASP World Masters 2011 / Foto Fábio Minduim

Fia, como é conhecido, carinhosamente entre os amigos e familiares, não se cansa, mesmo após o anúncio de sua aposentadoria, ainda é surfista profissional e Máster – categoria dos 36 a 40 anos – cameraman, shapper, empresário, apresentador, e, diga-se de passagem, a lista não para por aí… Portanto, o homem é incansável, 100% high energy. Seu último feito foi a conquista do título de vice-campeão no SuperSurf ASP World Masters Championship 2011, na categoria Máster, que teve como sede as ondas da Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. Fia perdeu a primeira posição para o australiano Nathan Webster, 37 anos.

Enfim, nós, do InnerSport, que não “marcamos bobeira”, aproveitamos a disponibilidade do atleta e batemos um papo com um dos nomes mais importantes do surf brasileiro. Um nome que juntamente com outro ícone do surf, Teco Padaratz, abriu as portas aos nossos atletas para o circuito internacional. Nesta entrevista Gouveia palpita quem poderá vir a ser o primeiro brasileiro campeão mundial de surf; fala da sua paixão por filmagens; do seu programa “Rái êite 100 tripé” e, de “picos” que ainda pretende surfar. Da sua aposentadoria no surf e de outras curiosidades. Segue aí a nossa conversa bem descontraída com o Fia, que também falará como surgiu este carinhoso apelido.

Fábio, Ilana e a câmera / Foto arquivo pessoal

Já são quase dois anos de aposentadoria da categoria Pro. Como você está vivenciando este processo? A mente, o corpo e o coração já se aquietaram. A pendurada de lycras é sem dúvida um momento muito difícil para qualquer atleta que vive do surf. Vi as dificuldades dos amigos quando pararam e, eu mesmo, fiquei uns 3 anos amadurecendo a ideia. Digo isso porque já vinha preparando outras coisas para fazer após parar de vez. É bem difícil ter um evento brasileiro ou mundial na porta de casa e decidir não participar. Mas na real, hoje, vejo que se for para parar tem que cortar o cordão umbilical de uma vez só, pois do contrário, acaba sendo mais difícil e penoso. A mente ficava bastante perturbada quando o assunto era aposentadoria, mas a partir da decisão, o peso enorme foi diminuindo, e a nova fase passou a ficar clara, dando espaço para outras oportunidades fluírem. Com a mente saudável damos espaços para coisas boas em todas as áreas, incluindo a “carcaça” (o corpo).
A guinada para as competições Masters é uma forma de “matar” a saudade dos campeonatos? Sempre tive em mente disputar eventos Masters. Mas hoje em dia vejo de outra forma, ou seja, muito mais confraternização do que uma competição propriamente dita. Claro que entro nas disputas para vencer, mas com certeza tenho bem menos preocupação e nervosismo do que na época de um WCT, WQS, por exemplo.

Bottom turn (cavada) preciso em algum lugar do Marrocos

Desculpe-me intrometer, mas como é ter 40 anos, para uma pessoa que depende do condicionamento físico. O que mudou? Na Casa dos 41, e, já virando 42 (risos), o que mudou foi que, às vezes,  a mente acelera e a “carcaça” – corpo – não vai, mas a consciência deste fator ajuda a tranquilizar… É a tal da maturidade (risos).
Ainda existe algum lugar que você não surfou? México e Nias, na Indonésia. Mas as viagens já estão dentro dos planos para este ano (2011) e o próximo (2012).
Qual foi o maior “perrengue” da sua carreira? Decidir o momento de parar de competir nos circuitos profissionais. Foram noites sem dormir…

Fabio Gouveia e seus filhos Igor, Ilan e Ilana / Foto Chico Padilha

Como era levar sua família toda para as competições? Havia ajuda de custo ou você bancava tudo? Com exceção do ano de 92, quando recebi um prêmio da Hang Loose por ter sido top 13, em 91, as demais foram financiadas por mim e não me arrependo. Pode ter certeza que foi muito dinheiro investido por mim. Foi o melhor investimento que fiz. Por conta disso pude acompanhar o crescimento dos meus filhos. Eles tiveram um pai presente, na medida do possível e, eu e minha esposa curtimos mais a vida a dois. Se não tivesse investido nisso, teria ficado uma lacuna entre nós.
Hoje o surf e o surfista mudaram. Existe uma melhor assessoria, mais atenção aos treinos físico e psicoemocional. Você acha que se tivesse obtido o apoio de alguém, como seus filhos, teria sido melhor? Com certeza teria sido mais fácil e proveitoso, mas tudo que passei, com o aprendizado próprio, foi muitíssimo válido.

Fia e sua esposa e parceira Elka / Foto Divulgação

Conte aos leitores do InnerSport como surgiu o carinhoso apelido “Fia”? Em João Pessoa, onde vivi toda minha infância, a galera chama uns aos outros de “fia”, tal como “mano” ou “brother” como nas demais localidades do país. Em uma de minhas primeiras viagens ao sul, para a Praia da Joaquina, me hospedei com mais dois amigos surfistas de Santos (SP), o Rogério Alemão e o Daniel Miranda. Eles achavam engraçado como eu os chamava, e, assim, passaram a me chamar desta forma, daí pegou “fia” pra lá, “fia” para cá…
Júlio Adler, em seu blog,  cita alguns de seus atributos, como shaper, video-maker, produtor, escritor, editor, inventor de bugingangas, fotógrafo, apresentador e surfista. Você consegue nos dizer onde cabe tudo isso numa única pessoa? Essa é a forma de dar retorno para meus patrocinadores. Fico o tempo todo procurando maneiras de fornecer uma contrapartida, mas tudo é na base do prazer. Gosto de tudo que faço e vou descobrindo as coisas à medida em que o tempo vai passando. Aliás, às vezes, falta tempo diante da quantidade de coisas que invento e me meto a fazer. Mas, minha vida é assim, e não consigo ficar quieto. Muitas coisas que faço são reflexos da vida no surf. A convivência em meio a muitas pessoas legais e que me proporcionaram um pouco de cada um deles também ajudou muito. Aprendi com muita gente envolvida no esporte e hoje muitas vezes procuro passar adiante.

Fábio e o tripé de fotos, um dos hobbies prediletos / Foto Babi Cunska

Podemos afirmar que um dos seus hobbies é estar sempre com uma câmera filmadora em mãos. Como surgiu essa vontade de registrar os momentos e também de reinventar novas formas de captar imagens? Adquiri minha primeira câmera no final de 88. O “barato” era gravar o surf e assistir ao resultado. Adorava me assistir surfando, pois, facilita na correção dos erros etc. Isso começou fazendo parte de um treinamento para aperfeiçoar o estilo e trazer para os amigos minhas andanças mundo afora. Na época nem se pensava em Internet (risos). Mas, meu “barato” é também gravar tudo, registrar quase tudo. Portanto, tudo continua igual, se surge um fato, eu registro! Na real gosto de captar a imagem e nessa descobrir novos ângulos diferentes. Não sou de mexer na parte técnica das câmeras, apenas escolher um bom local e tome-lhe “Rec & Play”….
De onde surgiu a inspiração para a criação do nome “Rái êite 100 tripé”, para o seu programa no Canal Woohoo? E quem surgiu primeiro: o nome ou o programa? “Rái Êite” veio antes do programa. Na real era para ter sido um extra dentro do filme Fábio Fabuloso, mas o Pepê achou melhor guardar o nome para que eu usasse em algo no futuro. O Pepê acabou criando outro nome muito legal, o “Sem Tripé nem Cabeça”, ou seja, um primo do “Rái Êite” (risos). A ideia era justamente o que todos assistem no canal. Diversão de uma vida prazerosa! Tudo ali é espontâneo e não tenho compromisso com nada. Claro que comprei um bom tripé, mas as câmeras precisam melhorar (risos).
Arrisca algum palpite sobre qual surfista brasileiro está mais bem preparado para ser campeão mundial? Sem dúvida Adriano de Sousa pelo seu foco. Gosto até mais de outros surfistas, mas ele é muito forte psicologicamente e é o que na real agrega para a conquista do título.


Na série:
Melhor onda? Sunset;
Pior “vaca”? Pipe, Teahupoo e Margaret River;
Melhor Trip? Mentawaii em 97. Programa Surf Adventures para o Sportv;
Música preferida? House. Mas escuto de tudo;
Prato predileto? Moqueca de camarão;
Família? Em primeiro lugar;
Ian Gouveia? Surf no pé. Bom em várias manobras e principalmente o aéreo. Precisa melhorar nas ondas grandes, mas está evoluindo dentro da normalidade;
Surf? Não que eu seja bitolado, mas é a minha vida;
Fábio daqui a 20 anos? Com minha esposa e uma “túia” de netos viajando pela América Central (risos).

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