Está chegando o grande dia…

A celebração dos 30 anos do Hang Loose Pro Contest 2016 será nos dias 1 a 6 de novembro na Praia da Joaquina, com uma etapa do QS 6000 em Florianópolis. O campeonato de 1986 ficou marcado na história do esporte por trazer o Circuito Mundial de volta para o Brasil e pelas ondas épicas de 8-10 pés que quebraram na “Joaca”, durante a semana daquele evento inesquecível. As principais estrelas do surfe mundial prestigiaram a estreia da Ilha de Santa Catarina no cenário internacional e muitos brasileiros também competiram contra grandes ídolos, como Tom Carroll, Mark Richards, Mark Occhilupo, Barton Lynch, Shaun Tomson, Wayne Bartholomew, Damien Hardman, entre tantos outros. E um dos grandes personagens do primeiro Hang Loose Pro Contest foi o carioca Sergio Noronha, um surfista ainda amador na época, que acabou se tornando o melhor brasileiro no campeonato. Ele competiu desde o primeiro dia, passou pelas triagens, chegou no evento principal e derrotou algumas estrelas internacionais, como Barton Lynch e Mitch Thorson, só parando no campeão Dave Macaulay nas quartas de final. Noronha decidiu se profissionalizar com o prêmio do quinto lugar no Hang Loose Pro Contest e compete até hoje, na categoria Master. Ele conta um pouco daquele campeonato incrível de 1986 em Florianópolis.

Sergio Noronha (RJ) / Foto Alvarenga Junior

Sergio Noronha (RJ) / Foto Alvarenga Junior

“Eu era apenas um amador dentre alguns que estavam lá e não esperava chegar tão longe”, confessou Sergio Noronha. “Eu havia competido no Waimea 5000 (em 1982 no Rio de Janeiro), pois meu pai já me incentivava naquela época, então já tinha corrido com alguns gringos, mas nada comparado ao que foi vivenciado em Floripa. As ondas realmente fizeram a diferença e a minha bateria com o Barton Lynch foi a mais disputada, venci por 3 a 2. Com o campeão do evento, Dave Macaulay, não tive chances, o cara tava inspirado e as ondas achavam ele”. O Hang Loose Pro Contest era a oitava etapa da temporada e a maioria dos gringos que brigava pelo título mundial estava em Santa Catarina naquela semana de 6 a 14 de setembro de 1986, para prestigiar a volta do Brasil ao Circuito Mundial. Poucos conheciam Florianópolis e a Praia da Joaquina, mas muitos consideraram aquele mar épico de esquerdas perfeitas de 8-10 pés, como o melhor dos últimos três anos em etapas no mundo todo. Um total de 155 brasileiros participou do campeonato, quase todos entrando nas longas triagens para chegar no evento principal, quando estreavam as atrações internacionais, os tops do ranking mundial.

“Eu viajei pro Sul sozinho e lá, por pura obra do destino, fiquei em companhia dos pro surfers de Cabo Frio, Miguel Kury e Gugu, numa casa alugada na Barra da Lagoa”, conta Sergio Noronha. “Eu estava uma semana sem surfar, porque tinha cortado meu pé direito, o que me obrigou a usar botinhas de neoprene (usadas em fundo de coral pra não se cortar). Eu levava duas pranchas novas para o evento e nossos treinamentos foram intensos, acordando cedo pra correr e depois surfar na Joaca, que ficou realmente clássica. O equipamento estava 100% aprovado, uma 5´11 e uma 6’1 da Hotstick, shape do Victor Vasconcellos”. Entre os brasileiros, apenas o catarinense David Husadel e o paulista Tinguinha Lima entraram direto no evento principal, como convidados da Hang Loose. Os outros competiram nas longas triagens e onze se classificaram para a primeira fase homem a homem, ficando então treze brasileiros. Sergio Noronha foi um deles e um dos quatro únicos que derrotaram os gringos, junto com Tinguinha Lima, Dadá Figueiredo e Rodolfo Lima. David Husadel e mais oito foram eliminados, Paulo Matos, Felipe Dantas, Taiú Bueno, Almir Salazar, Cesar Baltazar, Renato Phebo, Fernando Bittencourt e Ricardo Tatuí.

Sergio Noronha (RJ)  / Foto Nelson Veiga

Sergio Noronha (RJ) / Foto Nelson Veiga

“Quando eu cheguei no evento principal, senti uma diferença absurda na torcida, pois quanto mais próximo chegava da praia surfando a onda, dava para ouvir a multidão que vibrava a cada manobra”, relembra Sergio Noronha. “Eu, o Miguel e o Gugu, fizemos nosso point na parte esquerda do palanque, vendo tudo do alto, se protegendo do Sol intenso, analisando as ondas, monitorando os intervalos entre as séries. Realmente, a concentração no evento principal foi tanta que até mesmo aquelas mulheres maravilhosas do Sul, que desconcertam qualquer um, não conseguiram tirar meu foco no evento. Fiquei fiel à minha prancha (risos)”. Dos quatro que passaram para enfrentar os principais cabeças de chave na segunda fase homem a homem, apenas Sergio Noronha venceu, despachando o australiano Barton Lynch, que no ano seguinte conquistaria o título mundial de 1987. Tinguinha Lima perdeu para Hans Hedemann, Dadá Figueiredo para Glen Winton e Rodolfo Lima para Mark Occhilupo. Os campeões mundiais Tom Carroll e Mark Richards também ficaram nessa fase. Noronha ainda enfrentou mais dois australianos, passando por Mitch Thorson nas oitavas de final e só parando no campeão Dave Macaulay nas quartas de final. “Lembro que peguei uma esquerda espetacular contra o Dave Macaulay, mas extrapolei na batida de backside, que saiu até na capa da Visual Esportivo (revista de surfe da época)”, destaca Sergio Noronha, sobre a bateria com o campeão do Hang Loose Pro Contest 1986. “Ali senti que tinha perdido a primeira das duas baterias que correria com ele. Depois, fui pro tudo ou nada e novamente o cara tava cirúrgico, venceu a mim e à todos, inclusive o Occy (Mark Occhilupo) na final”.

Depois da festa australiana no pódio, um concurso “miss biquíni” agitou a multidão na praia, fechando a festa do campeonato mais emblemático da história do surfe brasileiro. O Hang Loose Pro Contest aconteceu mais três vezes na Ilha de Santa Catarina e todos foram vencidos por surfistas da Austrália, com Tom Carroll sendo bicampeão na Joaquina em 1987 e 1988 e Glen Winton ganhando o último em 1989. “Duas coisas que me deixaram triste naquele campeonato”, revela Sergio Noronha. “Uma foi não ter chegado às finais, pois queria muito aquele troféu, que era lindo. Outra foi não ter falado com o Alfio (Lagnado, da Hang Loose) para me patrocinar, pois teria tudo a ver após o evento (risos). Mas, o Sergio Noronha (Fedelho) passou a ser celebridade nacional no meio do surfe. Voltando pra casa, o filho que sempre foi estudioso, era o orgulho dos pais, mas havia dado um tempo nos estudos em 1984, após terminar o segundo grau para se dedicar ao surfe, sempre com o apoio da D. Luzia e Seu Sergio e as irmãs Katya e Luciana, pôde mostrar que realmente era bom naquilo que se propunha a fazer”.

Sergio Noronha (RJ) / Foto Arquivo Pessoal

Sergio Noronha (RJ) / Foto Arquivo Pessoal

Sérgio Noronha, quinto colocado e melhor brasileiro no primeiro Hang Loose Pro Contest da história, é um dos personagens da celebração de 30 anos. “Fazer parte dessa história não me credencia em nada, mas me sinto feliz de ter tido ídolos e por ter competido com eles, como o Cauli (Rodrigues), Valdir Vargas, Picuruta Salazar, Tinguinha, Dadá (Figueiredo), Pedro Muller, e dentre os gringos, o Occy (Mark Occhilupo), Tom Carrol, Tom Curren, Kong (Gary Elkerton)”. A história do campeonato de surfe mais tradicional da América Latina vai recomeçar agora onde tudo começou, na Praia da Joaquina, de 1 a 6 de novembro em Florianópolis. Quem será o vencedor na celebração dos 30 anos do primeiro Hang Loose Pro Contest?

Por João Carvalho

Compartilhe.