Dez anos de Maui and Sons Arica Pro Tour

El Gringo (Foto: Pablo Jimenez)El Gringo (Foto: Pablo Jimenez)

A etapa mais perigosa e desafiadora do WSL Qualifying Series vai celebrar 10 anos de história esse ano no Chile. O Maui and Sons Arica Pro Tour QS 3000 é a etapa mais importante e mais antiga do Circuito Mundial na América do Sul fora do Brasil. Os tubos gelados de El Gringo formando bem próximos de uma bancada de rochas que não permite erros, são considerados como um dos melhores do mundo e até chamados de Pipeline sul-americano, comparando com a praia mais famosa do Havaí. O Desafio de Arica esse ano vai acontecer na última semana deste mês, de 28 de maio a 02 de junho na Ex-Isla Alarcán, no Chile.

Um dos organizadores do Maui and Sons Arica Pro Tour QS 3000, Francisco ‘Oso’ Gana, define a onda de El Gringo: “É uma onda onde este esporte deixa de ser um jogo de meninos e onde se pode dividir claramente o surfista amador do profissional. Não foi uma tarefa fácil conseguirmos incluir no calendário mundial da World Surf League todos esses anos, uma das etapas com as ondas mais perfeitas do circuito QS, mas uma das mais perigosas do mundo também. Um lugar que para muitos surfistas pode ser um grande pesadelo, pelo seu nível de exigência, onde o espaço para erro é quase nulo”.

Durante os nove anos de história do Maui and Sons Arica Pro Tour, muitos surfistas viveram esse pesadelo de cair na bancada que não perdoa erros. No entanto, muitos também surfaram os melhores tubos das suas vidas nesta onda de alto grau de dificuldade, que não é para qualquer surfista e que separa os homens dos meninos. É uma onda diferenciada, única, difícil, desafiadora, mas perfeita quando o swell está na direção certa. Em 2015, o mar ficou enorme e as condições tão extremas no último dia, que as finais do evento tiveram que ser canceladas para preservar a integridade física dos atletas. Foi o único ano que não teve um campeão.

Nas outras oito edições, os surfistas do Peru conquistaram a maioria dos títulos, três e com duas decisões 100% peruanas. Gabriel Villarán venceu a primeira contra Alvaro Malpartida na estreia da etapa chilena no QS em 2009. O próprio Malpartida ganhou a etapa de 2013 e foi vice-campeão de novo na vitória de Tomas Tudela na outra final peruana em 2017. Dois brasileiros também já venceram o desafio nos tubos de El Gringo, Jessé Mendes em 2014 e Jeronimo Vargas no ano passado. A única vitória chilena aconteceu na segunda edição, com Guillermo Satt em 2011, pois em 2010 o campeonato não foi realizado. Já os surfistas de outros continentes que conseguiram vencer em Arica, foram o australiano Anthony Walsh em 2012 e o francês William Allioti em 2016.

Alguns campeões comentaram sobre suas vitórias e principalmente a qualidade “world class” da onda de El Gringo. Todos destacaram a perfeição dos tubos, mas também o perigo de surfar muito próximo de um recife afiado. Neste ano, mais de 100 surfistas de vários países já confirmaram participação na histórica décima edição do Maui and Sons Arica Pro Tour. Alguns ex-tops do CT, como o havaiano Dusty Payne e o brasileiro Ian Gouveia, alguns tops do ranking atual do QS, como o australiano Jack Robinson e o costa-ricense Carlos Muñoz, entre outros.

“Sempre achei o evento de Arica um dos melhores da WSL, tanto QS como CT”, disse o defensor do título esse ano, Jeronimo Vargas. “Eu fui para El Gringo a primeira vez em 2008, junto com o Alejo Muniz e o Marco Giorgi. A vontade bateu depois de acompanhar o CT que rolou lá e o Andy Irons venceu em 2007. Agora, anos depois, eu conseguir vencer também com altas ondas e uma nota 10 onde meu maior ídolo venceu, foi muito especial para mim. Espero que todos vejam o quanto importante é a qualidade das ondas num evento. Não só para deixar mais justo um esporte tão subjetivo, mas a repercussão e o retorno que gera um evento com ondas de verdade, além de ser muito mais divertido e emocionante para quem assiste”.

O recordista em finais em Arica, Alvaro Malpartida, também exaltou a qualidade da onda: “El Gringo é, certamente, uma das melhores ondas do mundo e digno de uma etapa importante do Circuito Mundial como essa. É o nosso Pipeline! É uma sensação deliciosa ficar pegando tubos perfeitos a semana toda do evento. Eu creio que a atitude é muito importante e primordial para ter confiança nesse tubo, mas a tática de competição sempre ajuda. Uma boa combinação dos dois é letal. É uma onda perigosa também. Nas semifinais de 2013, eu bati no recife e cortei minha cabeça, mas entrei na final assim mesmo, sangrando. Só depois, eu fui para uma clínica e levei 5 pontos. É realmente pesada a onda e o reef muito perigoso”.

O campeão de 2017 e também peruano, Tomas Tudela, destacou que: “O Maui and Sons Arica Pro é realizado em uma das melhores e mais temidas ondas do planeta, então é sempre emocionante voltar a este lugar tão lindo a cada ano. Sem dúvida, é a minha etapa favorita, pois 80% dos QS são em ondas ruins. O potencial que El Gringo tem, podemos dizer que é classe “A” pela sua forma tubular e potência. Ganhar esse evento representou tudo o que eu realmente quero no surfe. Vencer um evento de alto nível em ondas tubulares, mostra que você é um surfista completo e que pode conseguir um título em qualquer lugar. Essa vitória foi tudo para mim, pois ganhei na minha onda favorita do QS, então o que mais poderia querer”.

Já o único europeu a festejar vitória no Maui and Sons Arica Pro Tour, William Allioti, é um surfista que viaja o mundo atrás de ondas desafiadoras, não compete muito no Circuito Mundial, mas sempre participa das etapas com as melhores ondas, como as de El Gringo. Ele confessa que não planejava e nem tinha se preparado para vencer aquele campeonato em 2016. Só queria mesmo pegar tubos nas baterias, para aproveitar as chances de surfar com apenas uma ou três pessoas no mar junto com ele.

“O potencial dessa onda é insano”, afirmou William Allioti. “Cada direção de swell produz ondas super diferentes, podendo te deixar numa situação muito difícil ou fazer o melhor surfe da sua vida. Remar para fora ou para dentro é difícil naquele pequeno canal perto da rocha. Esta parte pode ser o pior pesadelo se você estiver no tempo errado. As ondas são incríveis e naquele ano que eu ganhei, eu não estava realmente pensando nisso. Eu estava indo de Santiago para Arica em uma Van procurando ondas pela costa chilena, não estava com a cabeça na competição. Eu só queria surfar mais e mais as ondas para conseguir mais e mais tubos (risos). E acabei na final com o Dean (Bowen). As ondas estavam bombando todos os dias e acabei tirando uma nota 10 que me deu a vitória. É, realmente, a melhor etapa do QS no mundo em termos de ondas e só tenho medo que um dia o evento vire um QS 6000. Aí pode ser que eu não consiga inscrição, porque agora eu quase não entro por causa do meu ranking”.

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