A Pororoca do Capim

No fim do mês de abril o município de São Domingos do Capim-PA mostrou mais uma vez porque é considerado a Capital nacional da pororoca com a realização do 19º Surf na Pororoca e o 17º Festival da Pororoca. Durante cinco dias o município mais surf da região recebeu milhares de visitantes em busca de diversão e principalmente, para rever ou até mesmo conhecer um dos fenômenos mais intrigantes da Amazônia tupiniquim: a pororoca. Várias atividades, incluindo apresentações com grupos musicais, aparelhagens (gigantescas estruturas de som com potência ensurdecedora), gastronomia, torneio de futebol e até uma Ultramaratona de SUP garantiam a diversão dos mais de 30 mil visitantes que compareceram às festividades e diariamente lotavam a Arena Pororoca.

Foto Márcio Ferreira

Foto Márcio Ferreira

Contudo, a atração principal, a locomotiva que há quase 20 anos impulsiona toda essa movimentação e acabou por colocar esse pequeno município no mapa internacional dos esportes radicais, é mesmo o fenômeno da pororoca. E mais uma vez a onda da mata compareceu à sua festa em grande estilo, levando ao delírio às milhares de pessoas que se aglomeravam no Mirante do Barriga, às margens do Rio Capim. Todas ávidas em testemunhar o improvável e intrigante espetáculo do surf na selva.

Durante três dias a onda veio com força e a organização do evento aproveitou para garantir mais uma Quebra do Recorde Brasileiro do maior número de surfistas na mesma pororoca, desafio que já se tornou tradição do Surf na Pororoca de São Domingos, como nos explica o Presidente da ABRASPO-Associação Brasileira de Surf na Pororoca, Noélio Sobrinho. “A cada ano a Quebra de Recorde ganha mais importância no Surf na Pororoca de São Domingos. Esse ano, por exemplo, tivemos a maior participação de todos os tempos de surfistas locais do município dando uma clara demonstração de que, apesar de estarmos nessa movimentação há mais de 20 anos, ainda temos muito o que crescer por aqui. O recorde foi mantido no município e agora estamos apenas esperando sua homologação para comemorarmos juntos mais uma vitória para a Capital da Pororoca”, declarou o dirigente, que fez questão de completar enfatizando que a pororoca nunca morrerá.

Noélio Sobrinho no Surf Noturno / Foto Jeremy Dias

Noélio Sobrinho no Surf Noturno / Foto Jeremy Dias

Surf noturno – Mas as emoções não ficaram limitadas à Quebra do Recorde. Outra movimentação igualmente tem crescido bastante e atraído muita gente, sobretudo os surfistas mais jovens e destemidos de São Domingos do Capim: o surf noturno. Realizado durante a passagem do fenômeno na madrugada, o Surf Noturno tem se mostrado mais uma atração de sucesso, pois, centenas de pessoas se deslocam exclusivamente para ver os surfistas enfrentarem os desafios do rio, da selva e da noite em um surf cheio de adrenalina e misticismo, já que sempre antes do surf é realizado o Ritual Auêra-Auára, onde os surfistas pintam o corpo e pedem proteção aos espíritos da floresta para que nada de mal aconteça com eles. E esse ano a organização inovou colocando canhões de luz especiais para iluminar o breu do rio até mesmo sob neblina densa. Tudo para que os surfistas pudessem aproveitar essa rara oportunidade que só acontece uma vez por ano.

Para Marcelo Bibita, o sacerdote do ritual, o crescente envolvimento dos moradores do município é uma prova de que a pororoca está fixando suas raízes na identidade dos capimenses. “É muito bom para nós da ABRASPO ver que essa semente chamada surf na pororoca, plantada aqui há mais de 20 anos está cada vez mais presente no imaginário e nas vidas dos moradores, sobretudo dos jovens. O fato da pororoca ter se tornado Patrimônio Cultural e Imaterial do povo do Pará teve um peso muito grande nesse processo e acreditamos que essa mudança de paradigma irá contribuir de forma decisiva para a consolidação cultural de todos que se orgulham de ser paraenses, sobretudo os munícipes de São Domingos”, declarou Marcelo.

Fotos Márcio Ferreira

Por George Noronha

Compartilhe.